A maior parte das pessoas associa flores e belas folhagens à primavera. Mas, no inverno, a natureza também tem força e não é difícil encontrar espécies de plantas que mostram todo o seu esplendor justamente nos dias frios e menos luminosos. As flores de inverno, por serem naturalmente mais resistentes, podem ser utilizadas em quase todos os ambientes, com espécies adequadas tanto para uso em jardins a céu aberto, em vasos dentro de casa ou na forma de flores de corte, constituindo arranjos.
A diferença destas espécies está na menor necessidade de horas com sol para florescer, são as chamadas plantas de dias curtos, como explica a bióloga e paisagista Heloiza Rodrigues. Como qualquer vegetal, as flores e folhagens “de inverno” exigem alguns cuidados, principalmente se cultivadas em jardins externos.
Rega, poda e adubação
“A irrigação deve ser feita com mais frequência, já que a estação costuma ser mais seca”, recomenda a doutora em Agronomia e Horticultura, Amaralina Celoto Guerrero. No entanto, se o período estiver chuvoso, a dica é diminuir a frequência das regas, mantendo o solo sempre úmido, mas não encharcado.
A poda também precisa ser criteriosa: plantas que vão florir no inverno ou no início da primavera não devem ser podadas muito antes do início da primeira estação citada, para não prejudicar o desenvolvimento das flores. O ideal é apenas remover folhas e galhos secos. “Por exemplo, as roseiras podem ser podadas no final de maio ou começo de junho para que tenha sua floração plena nos meses de julho e agosto”, indica Guerrero.
A adubação é feita de acordo com a necessidade, mas como o metabolismo dos vegetais torna-se mais lento, reduza a quantidade sem deixar de oferecer insumos com fósforo e potássio, por exemplo, para que a florada seja bonita. É nos meses frios que as plantas entram em dormência, ou seja, têm menor crescimento. “É indicado fazer a adubação mais intensa antes desse período para que as plantas estejam bem nutridas e fiquem mais exuberantes durante a época mais fria”, explica a pesquisadora.
“Agasalhando”
Outro fator importante é proteger a parte inferior do tronco (próximo ao solo) das flores mais sensíveis com compostos orgânicos como lascas de madeira, musgos ornamentais e, até mesmo, esterco curtido, para evitar a perda de calor. Os especialistas concordam que não há necessidade de cobrir os canteiros nas noites mais frias, ou durante chuvas intensas, pois as espécies de inverno são resistentes às intempéries climáticas, mas o gramado e as plantinhas de forração podem sofrer com eventuais geadas. “Para proteger estas variedades, pode-se colocar uma camada de areia para cobrir parte das folhas, porém sem sufoca-las”, sugere a paisagista Daniela Sedo.
O inverno também é a época em que devemos preparar os jardins para a chegada da primavera. Segundo o paisagista João Jadão, nessa época podem ser podadas espécies que florescem no meio da primavera, por meio de cortes de limpeza (remoção de galhos secos e mal formados), de formação (ramos mais baixos com valorização do tronco principal) e de condução (brotos e laterais para crescimento na direção desejada).
A paisagista Cynthia Rodrigues também recomenda que o transplante de arbustos, árvores e trepadeiras seja feito no inverno, por conta da dormência das plantas, e o jardim seja constantemente limpo através da retirada de ervas daninhas que costumam proliferar nessa estação. “A cobertura com folhas secas Mulch também é uma prática usada para manter sempre protegida a terra de hortas e jardins, pois auxilia as plantas a crescerem e se desenvolverem melhor”, explica Cynthia. Segundo a paisagista, esses benefícios ocorrem em qualquer clima, frio, quente, seco ou úmido.
Espécies do frio
Um dos gêneros de flores de inverno mais conhecidos é o Rhododendron, do qual faz parte a azaleia, que floresce em agosto. Segundo a paisagista Daniela Sedo, tais arbustos aceitam poda, que deve ser feita no final do florescimento, e eventualmente no correr ano, para manutenção do formato. “A azálea pode ser plantada em vaso, com no mínimo 50 cm x 50 cm, para durar um ano, ou 80 cm x 80 cm, para viver por cinco anos com boa saúde”, informa Sedo.
Depois desse período é importante fazer o replantio: retirar do vaso, cortar as raízes e trocar a terra para disponibilizar nutrientes novos para a planta. Apesar de ser uma espécie de meia sombra, a azaleia precisa de claridade e um pouco de sol diários.
Outra flor de inverno que pode ser cultivada em vasos dentro de casa é a prímula (Primula obconica ou Primula x polyantha) que se adapta muito bem aos locais próximos às janelas, onde recebe luz filtrada, e ao solo fértil, úmido e levemente ácido.
“Também são típicas do inverno as plantas anuais como calêndula, amor-perfeito e boca-de-leão”, complementa Heloiza Rodrigues. Há espécies arbustivas como as magnólias – com flores brancas ou rosas, que aparecem quando a planta esta completamente despida de folhas – e as camélias que começam sua florada no outono e se estendem por boa parte do inverno. E, entre as árvores, ipês rosa, florescem no outono e parte do inverno, e amarelos, em agosto.
A cerejeira japonesa, assim como os ipês, dá flores nos meses de frio: “Em nosso país elas não frutificam, pois são necessárias muitas horas de temperaturas muito mais baixas, mas sua florada é tão bonita como no Japão.”, esclarece Rodrigues. As variedades de cerejeiras japonesas encontradas no Brasil são a rosa claro e a rosa escuro e elas são utilizadas como arborização de muitas ruas em cidades do sul do país.